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No sofá com a empreendedora Sandra Couto

Qual a tua atividade profissional?

Sou Consultora Imobiliária desde 2019, atividade que exerço em nome próprio em parceria com a Keller Williams, empresa líder no mercado imobiliário mundial. Tenho formação específica na relação e processo com compradores e vendedores e o que me apaixona são os processos complexos de troca de casa, em que o mesmo cliente atravessa os dois mundos: o da venda e o da compra, quase simultaneamente.

Desde 2020 que representam a maior ‘fatia’ do meu negócio e são, para mim, a maior prova da confiança que os meus clientes depositam na minha competência. Eles dizem que lhes trago calma, eu acredito que é a experiência que me permite orientá-los da melhor forma para que a vivência deste momento seja a melhor!

Quando sentiste o “chamamento” do empreendedorismo na tua vida?

Comecei a trabalhar aos 20 anos, por conta de outrem. Foi um projeto com início e fim, que durou pouco mais de 1 ano. Durante aquele tempo, chegar ao fim do mês e receber salário foi muito transformador. Senti-me muito independente, muito dona de mim. Mas ainda estava na faculdade e arranjar um emprego a sério não era bem uma opção na minha cabeça.

Por essa altura, e coincidentemente, comecei 2 projetos: tornei-me assessora de beleza de uma conhecida marca de cosmética sueca e comecei a trabalhar em estudos de mercado. Em ambas as áreas, a ideia era ir ao meu ritmo e conciliar tudo com os estudos. Mas foi mentira! Quando começamos algo de que gostamos e percebemos que quanto mais nos envolvemos, mais ganhamos, o bicho ‘empreendedor’ já entrou! E é apaixonante. Desenvolver uma ideia, um plano, um negócio. Ter equipa, ter parceiros, e cuidar de tudo. É muito desafiante e envolvente. Foi aqui que tudo começou, ainda que eu não soubesse que já era uma empreendedora.

Como começaste o teu percurso empreendedor?

O meu percurso consciente veio mais tarde, em 2010, quando comecei o meu primeiro negócio, enquanto mediadora de seguros. Primeiro a experimentar, em nome individual, e um ano depois, com a abertura da minha própria empresa unipessoal. Ainda guardo o cartão da empresa, que nesta altura ainda era enviado para casa como prova da atribuição do nome e do NIPC. Que conquista que foi!

Em 2012, e não satisfeita com um só negócio próprio, em casa decidimos abrir a No Men Photography Lda e começar o negócio de Fotografia Profissional, onde até hoje ocupo o lugar de diretora comercial e de fotografa assistente quando é preciso. A No Men ganhou espaço e força e os seguros perderam terreno rapidamente. O mercado da fotografia familiar é apaixonante. Costumo dizer que não se fotografam momentos tristes, portanto, a Fotografia é o negócio puro da felicidade! Aprendi tudo o que pude sobre este mercado, desenvolvi os processos comerciais e administrativos e em 2018 senti que precisava de um novo desafio. A No Men funcionava perfeitamente sem mim. Foi nesta fase que o imobiliário me acenou ao longe e comecei a piscar-lhe o olho.

Que dificuldades encontraste nesse percurso e como as contornaste?

A minha maior dificuldade foi a contabilidade. Sem qualquer hesitação! Com formação académica na área das ciências, nunca tinha aprendido nada que me preparasse para contas, impostos, gestão de recursos materiais ou humanos. Foi uma luta séria, que durou de 2012 a 2016. Quatro anos a sentir que tinha muito para dar, competente em várias áreas que eu achava muito mais difíceis, mas simplesmente não atinava com os reports e as diferenças entre registos contabilísticos e tesouraria!

Resolvi com a paciência infindável da nossa contabilista, que se sentou comigo incontáveis vezes para eu entender as coisas mais simples, e depois, com uma medida mais séria, com recurso ao business coaching. Tive dois anos de acompanhamento direto para aprender a ser uma empresária e a gerir o meu negócio. E aqui veio outra dificuldade: o meu sócio que, por coincidência, é o meu marido. Deixámos momentaneamente de falar a mesma língua e a frustração associada a isso foi gigante para mim. Estávamos num impasse. Então agora que eu já via tão claramente o caminho, ele estava preso na área técnica e não achava a evolução assim tão pertinente. Achei que a solução para crescermos era convencê-lo a fazer o mesmo percurso. E foi mesmo. Fez um ano de business coaching também. Investimos muito nesta fase, mas voltámos a alinhar o nosso negócio. Fizemos contratações, ficámos com mais tempo livre e melhorámos substancialmente a nossa vida. Tenho muito orgulho neste nosso degrau de desenvolvimento. Foi de uma coragem imensa.

Comparando a tua atual atividade profissional empreendedora com o trabalho que tinhas antes, que diferenças destacas?

O trabalho por conta de outrem sempre me entediou, confesso. E muito por conta do horário. Acho que nunca o respeitei a 100%. Nem na entrada nem na saída. Sempre fui ‘tarefeira’: nunca me negava ao trabalho, mas não via propósito em estar às 9h se a primeira reunião era às 10h. Esta postura imatura rendeu-me muitos ralhetes e telefonemas encolerizados das chefes para saber onde eu estava. Hoje acho imensa piada, mas claro que na altura era uma coisa séria. Certo é que nunca foi preciso ninguém pedir-me para ficar mais tempo, se tínhamos pendências ou objetivos para cumprir. Sou extremamente comprometida com o trabalho, sempre fui. E esse compromisso rendeu-me sempre a confiança das chefias e recomendações para novos empregos.

Trabalho que me era entregue, ficava feito e todos sabiam disso. Mas ADORO a liberdade de horários. Fazer a minha própria agenda simplesmente não tem preço! E esta é a maior e melhor diferença que posso apontar. Outra, não menos importante, é a equipa. As duas experiências mais longas moldaram-me muito no trabalho de equipa. Aliás, o que mais apreciei desses anos foram precisamente os colegas de trabalho. Em contrapartida, o maior cliché da vida empreendedora é talvez a solidão por que tantas vezes passamos. Aceito parcialmente que é o preço a pagar peça liberdade. E apenas parcialmente porque adotei o netwoking como forma de empreender. As minhas Mulheres são as minhas colegas de trabalho! Com elas me reúno, com elas converso, com elas me aconselho e com elas aprendo em todos os momentos. Sou extremamente grata às Mulheres à Obra, especialmente às Parceiras e, em particular, às Teamers, por ocuparem esta função exigente no meu negócio!

Que dicas gostarias de partilhar para quem quer dar os primeiros passos numa carreira empreendedora?

A que gostava de ter recebido: não tenhas medo, mas não sejas tonta! Não tenhas medo e começa. Se tens uma ideia que achas que tem tudo para resultar, avança com ela, põe-na cá fora e testa-a com toda a tua energia e capacidade. Mas não sejas tonta e não largues o certo que tens, se estás empregada. Começar é um desafio e não é à toa que quem cá está o diz.

No início acumulamos funções, trabalhamos fora de horas, perdemos noites de sono e às vezes até a atenção durante o dia. Faz parte e este ‘início’ não tem uma duração certa. Às vezes demora. Mas eventualmente compensa e vais ser chamada escolher. E esse é um momento bom! Vais vivê-lo com intensidade!

Outra boa ideia é o acompanhamento. Não tenhas medo de procurar quem te ensine. Acredita: ninguém que empreende sabe muito no início e tu não és exceção. Não precisas de saber tudo, mas precisas de saber um pouco de tudo. E precisas de saber que há áreas em que há pessoas que sabem muito mais do que tu. Faz formação, procura coaching, mentoria, enfim, o formato que preferires. Compensa tanto!

E se estás a ler isto talvez não precises, mas… Encontra a tua tribo! Networking é absolutamente fundamental na tua vida. Última dica: nunca percas o lucro de vista. Não tenhas pudor com o dinheiro. Se és empreendedora, tens de gostar dele, saber cobrá-lo, saber geri-lo e diariamente saber investi-lo da melhor forma. Os negócios só o são se te permitirem fazer uma vida decente (no mínimo!) a partir deles. Então, foca-te nisso! Com o coração e com a missão de prestar o melhor serviço que conseguires. E vai correr tudo bem! Nunca duvides de que mereces o melhor Negócio e a melhor Vida!

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